"ELEIÇÕES"
IPATINGA - Quando eu menino em Fabriciano - nem distrito era de Antonio Dias, MG - no tempo das eleições, as únicas propagandas eram numerosas cédulas entregues nas casas e jogadas na rua - praticamente só uma rua existia - impressas, em sua maioria, em papel jornal. Hoje, as propagandas chegam às raias do absurdo, atormentando-nos o ano inteiro, com nosso rico dinheirinho sendo queimado, dia e noite, sem dó e nem piedade. Existe político honesto?... Não concordo. Se existisse, não concordaria com esse absurdo... Uma falta de compostura, de ética e de patriotismo. Uma aspiral sem fim de cinismo, corrupção e despudor...
Na campanha, espalhavam-se cédulas eleitorais, com os nomes dos candidatos – algumas vezes com o do partido – na minha inocência, matutava o porquê de o adulto dar tanta importância àquele fato. Os meninos íamos colecionando número máximo daqueles papeizinhos...
A votação consistia em colocar as cédulas, o eleitor levava-as de casa, dentro de um envelope comum e enfiava-o no buraco da urna de madeira. Anos mais tarde, os eleitores recebiam os envelopes timbrados na hora da votação. Papai era mesário.
As primeiras eleições, vistas por mim em Fabriciano, para Prefeito – lembro-me da do Doca Pires e do Candinho – foram de democracia total. Durante a campanha, os candidatos xingavam um ao outro, mas após o resultado, saíram juntos comemorando – o Doca ganhou.
Em Ferros, as eleições eram ferrenhas. O Social, time de futebol de Fabriciano, teve um grande goleiro ferrense - foi morto, por motivos políticos, numa briga de rua numa das eleições em Ferros.
Contaram-me que as eleições em Bom Jesus do Galho chegaram à violência sem limites. Chamaram o Exército, que acampou nas imediações da cidade, debaixo de um eucaliptal – dizia-se que numa manhã apareceu um soldado morto. Resultado: o Exército abandonou a cidade – atualmente os moradores negam esta versão. Foi o acontecido no Vietnam com o exército americano – como não conhecia o terreno, quem nascia no Vietnam era vietnamita, mas quem morria era americano!...no Iraque acontece o mesmo...
No internato, era eu pouco simpático ao Diretor, Padre Marcos Gabiroba. De quando em vez ele bradava:- “O Benedito só não esquece a cabeça onde esteve porque ela está segura pelo pescoço”.
Na década de 60, o Tribunal Eleitoral nomeou-me mesário – o Presidente.
Entusiasmado, trabalhei todo o dia, mas às três horas da tarde lembrei-me que deveria almoçar...
Um médico amigo de infância foi o último a votar. E eu já de prontidão para lacrar a urna, pois em todos os relógios dos presentes marcavam cinco horas quando meu amigo entrou na cabine.
Como Presidente, cabia a mim levar a urna ao Fórum.
Urna lacrada, peguei-a, chamei os soldados e íamos saindo quando... me lembrei de que não havia votado. Voltei, rasgamos o lacre, votei, todos os mesários assinaram um papel em branco e o colamos na fenda da urna, lacrando-a novamente.
... Nunca mais me chamaram para fazer parte da mesa de votação.
(Benedito Celso A. Franco)
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