BELO HORIZONTE - Foto de 1915, que suscitou a busca pela fonte cuja base estava soterrada no orquidário do Palácio da Liberdade.
BELO HORIZONTE - Uma fotografia com familiares do ex-presidente Delfim Moreira, datada de 1915, levou pesquisadores da Curadoria da Secretaria Geral da Governadoria do Estado a escavar e encontrar, dentro do orquidário do Palácio da Liberdade, no centro de Belo Horizonte, uma fonte projetada e construída pelo paisagista francês Paul Villon.
peça, que de acordo com os especialistas do governo, foi elaborada em 1902, estava enterrada e coberta por cimento e brita no local. Canos do sistema de irrigação dos jardins do palácio foram encontrados dentro dela, danificando parte da estrutura desenhada com detalhes florais.
“A descoberta representa como foi feito o trabalho de preservação durante a última administração no palácio. Era um total desinteresse e uma falta de responsabilidade com a história do povo mineiro e brasileiro. Estamos todos impressionados com o que encontramos”, diz uma servidora da curadoria que pediu anonimato.
Além da fonte, a equipe encontrou, ao lado do orquidário, um banco também desenvolvido por Villon, que havia sido soterrado e “apagado” do cenário bucólico dos jardins do Palácio da Liberdade. O assento circula uma palmeira. Nem mesmo os trabalhadores que cuidam das plantas do local conheciam as duas peças.
Elaborado por Paul Villon no fim do século XIX, o jardim do Palácio da Liberdade foi construído tendo como influência principal o paisagismo inglês, que dá liberdade à natureza para se apropriar e criar o próprio espaço natural. Nas obras do francês, a principal característica, perceptível até mesmo para os leigos em arte, é a forma sutil pela qual ele tenta harmonizar as plantas e as construções humanas, aliando o verde com o concreto. Na fonte encontrada, é possível observar pequenos detalhes com pedras que confirmam a autoria de Villon. No banco, ao lado do orquidário, o concreto simula a textura de uma árvore – também característica do trabalho do paisagista.
Em 1996, o então governador de Minas Eduardo Azeredo (PSDB) realizou uma série de reformas e mudanças na paisagem do jardim do palácio. A intenção, na época, era de transformar o paisagismo de influência inglesa em um local com características do trabalho do paisagista brasileiro Roberto Burle Marx.
As alterações fizeram com que parte da identidade original da antiga sede do governo mineiro fosse perdida. De acordo com a curadoria, é impossível dizer em qual data as obras de Paul Villon foram “deixadas de lado” e tapadas.