TRAJETÓRIA DO PIONEIRO DO VALE AÇO
IPATINGA - Nasceu na Fazenda Santo Antônio, em São Pedro dos Ferros (MG), dia 30 de janeiro de 1898. Filho de Quintino Alves de Carvalho e Angelina Alves de Carvalho, era casado com Zaide Roque, filha de tradicional família da região e pai de sete filhos: Ângelo (motorista aposentado e reside em Coronel Fabriciano), Angelina (formada em magistério e reside em Ipatinga), Antônio (engenheiro aposentado e reside em Belo Horizonte), Rômulo (falecido, era formado em bioquímica, residia em Ipatinga, onde era proprietário de um laboratório), Francisca (formada em Técnico em Contabilidade, Curso Normal e reside em Niterói-RJ), Clara (graduada em Letras/Direito e uma pós em Processo Civil e reside em Niterói-RJ) e Raimundo (fazendeiro na cidade de Paragominas-MG).
Raimundo Alves chegou em Coronel Fabriciano dia 11 de setembro de 1921, com sua família e numerosos operários para trabalhar na Estação Nossa Senhora, da Estrada de Ferro Vitória a Minas, que se localizava no atual bairro Horto.
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Farmacêutico formado pela Escola de Farmácia de Ouro Preto (MG) em 1920, historiador, ex-juiz em Timóteo, criador dos grupos Escolares Pedro Calmon e Angelina Alves, foi também proprietário de grandes terras na região do Vale do Aço.
Em 1979, Raimundo Alves de Carvalho, já com os seus 81 anos de idade, dedicou-se a edição de seu livro “Enciclopédia do Estado de Minas Gerais”, que conta a história das cidades mineiras, em três volumes. Homem tranquilo, admirador de um bom papo, Raimundo Alves residiu em Coronel Fabriciano e Timóteo por quase 58 anos, onde presidiu sua numerosa família.
Raimundo Alves foi proprietário da Fazenda Dona Angelina, onde se instalou a partir de 1944, a então Companhia Acesita (hoje Aperam South America).
Raimundo Alves veio a falecer dia 10 de agosto de 1979.
POLÍTICA
Com a construção da Estação Ferroviária do Córrego de Nossa Senhora em 1922, foi também instalada no local, onde é hoje o bairro Horto, a primeira farmácia de Ipatinga. Para lá foi enviado o farmacêutico Raimundo Alves Carvalho. Raimundo Alves fez carreira na política, integrando a Comissão Pró-emancipação de Coronel Fabriciano.
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Ingressou na política sendo primeiramente eleito vereador em Coronel Fabriciano pelo PTB (partido cujo diretório foi fundado por ele). Exerceu por dois mandatos o cargo de prefeito em Coronel Fabriciano, o primeiro de 1954 a 1957. Logo depois, fundou o PTN e foi reeeleito prefeito de Coronel Fabriciano em 3 de outubro de 1958 e cumpriu o mandato até 2 de outubro de1962. Durante seu mandato destacaram-se a criação da Avenida 28 de Abril, principal núcleo comercial de Ipatinga, que era um distrito de Fabriciano, e sua participação na emancipação política de Timóteo, que também era distrito fabricianense.
ENTREVISTA DE RAIMUNDO ALVES DE CARVALHO
Em abril de 1979, alguns meses antes de seu falecimento, Raimundo Alves concedeu uma entrevista a jornalista e historiadora Christina Tárcia na cidade de Coronel Fabriciano. Nessa entrevista o farmacêutico, pioneiro e historiador fala dos primeiros tempos do município de Timóteo, que viu nascer, crescer e modernizar-se.
Christina Tárcia – Raimundo Alves, qual é a mais antiga família de Timóteo?
Raimundo Alves – A do fazendeiro Francisco de Paula e Silva, mais conhecido como Chico Santa Maria. Chegou à região no dia 11 de setembro de 1921, com sua família e numerosos escravos. Estabeleceu-se no lugar chamado Alegre, ali abrindo roças e construindo sua residência para ter direito a uma sesmaria de terra. Constava-se de meia légua em quadra, no Ribeirão de Timóteo, onde hoje está localizada a Fazenda Maia. Quando cheguei aqui (Timóteo), ainda existia o velho casarão de dois andares. Abandonado. Corria uma lenda no lugar, que o fantasma de seu primeiro proprietário aparecia às noites no antigo cemitério dos escravos. Ninguém ousava colocar os pés ali.
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O NOME
Christina Tárcia – E o nome TIMÓTEO, de onde vem?
Raimundo Alves – Segundo tradição antiga, este nome fora herdado de um tal Manoel Timóteo, que tinha uma vendinha nas cabeceiras do rio, próximo a uma mineração, comerciava com escravos.
Christina Tárcia – Antes ou depois da chegada do Chico Santa Maria?
Raimundo Alves – Muito antes. Na carta de sesmaria cedida a Francisco de Paula e Silva, já constava o nome de Timóteo, batizando o ribeirão. Ma há uma segunda versão, na qual eu não acredito, de que o nome do ribeirão fora dado pelo Barão Eschwage, em homenagem a um afiliado seu nome de Timóteo, quando em 1810 foi encarregado de levantar a carta geográfica de Minas Gerais.
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Christina Tárcia – O senhor se referia ainda há pouco a uma carta de sesmaria. Como tomou conhecimento dela?
Raimundo Alves – Eu possuo o original. Quero dizer, possuia. Foi “emprestada” ao advogado Geraldo Perlingeiro Abreu, da Acesita, que se “esqueceu” de devolvê-la. Mas isto já é outra conversa. A doação do terreno para a formação do patrimônio de São Sebastião do Alegre de Timóteo foi feita por Frederico Malaquias que, sem herdeiros diretos e por se achar tuberculoso e sem esperança de cura, legou o terreno herdado de seu pai, Antônio Malaquias, adquirente dos herdeiros de Chico Santa Maria. Nesse terreno surgiu o povoado, hoje cidade de Timóteo.
Christina Tárcia – Como era Timóteo, quando o senhor chegou aqui, pela primeira vez?
Raimundo Alves – Alguns casebres, uma pequena capela e algumas fazendas nos arredores, só. Em 1915, na capelinha improvisada, coberta de folhas de palmito e que foi celebrada a primeira missa pelo padre João Batista Lau, cura da capela de São José do Grama, hoje Jaguaraçu, a cujo currato pertencia o patrimônio de São Sebastião do Alegre.
A PRIMEIRA PROFESSORA
Christina Tárcia – Havia escolas?
Raimundo Alves – Em 1922, a municipalidade de São Domingos do Prata, a qual era subordinada o povoado, criou uma escola, que se chamava Escola Ligada. Sua primeira professora foi Dona Maria Quintão Miranda, que exerceu o cargo por pouco tempo, sendo sucedida por Dona Maria Trindade que da mesma forma ocupou o cargo por curto prazo. Foi então nomeada Dona Maria Chaves, que alfabetizou varias gerações de timotenses. Naquele mesmo ano, foi instalada pela primeira titular, Dona Geni Bowan, a agência dos correios do lugarejo.
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Christina Tárcia – Em que data o povoado foi desmembrado do município de São Domingos do Prata e anexou ao de Antônio Dias?
Raimundo Alves – No dia 31 de setembro de 1940, por efeito do Decreto Lei de nº 1058, já com o nome de Timóteo. A instalação foi dia 1º de janeiro de 1941, sendo empossado seu primeiro juiz de paz o cidadão Joaquim Ferreira de Souza, que por sua vez, a 24 de junho do mesmo ano deu posse ao Sr. José Moreira de Castro, vulgamente conhecido José de Pio, no cargo de escrivão de paz e notas (interinamente). Em setembro, também do mesmo ano, fui efetivado pelo 1º juiz de paz, sucessor do Sr Joaquim Ferreira. Em 1945, foi feito, no novo distrito, o primeiro serviço de alistamento eleitoral, tendo eu sido nomeado juiz preparador, servindo de escrivão preparador, o Sr. José Moreira de Castro. Neste mesmo ano, na fazenda de minha propriedade, localizada onde é o centro da Acesita, era implantada a Companhia Aços Especiais Itabira.
Christina Tárcia – Gostaria que o senhor falasse um pouco mais da Fazenda Dona Angelina, que foi o início da Acesita.
Raimundo Alves – Perfeitamente. Em 1926, morando ainda em São José do Grama, onde possuia uma farmácia, comecei a adquirir terrenos em Timóteo. Esta era uma região muito bonita, com sua mata fechada e tapetes de boninas coloridas à sombra de gigantescas árvores. Um lindo lugar. Resolvi construir ali, um casarão, bem onde é hoje o Hotel Acesita. O prédio está conservado, embora com algumas modificações. Em 1934 mudei-me para lá. Foi onde todos os meus filhos nasceram. Coronel Fabriciano, na época não existia. Faziamos a travessia para o lado esquerdo do rio, por meio de barcos e canoas.
MUDOU TUDO
No dia 20 de outubro de 1944, acontece um fato que vem modificar minha vida e a vida de Timóteo: “Chega a fazenda o engenheiro Alderico Rodrigues de Paula, sozinho, à pé, com as mãos cheias de maracujás silvestres, colhido pelo caminho. Não me disse porque viera. Pouco tempo depois recebo a visita do americano Percival Farqhuar, Amynthas Jacques de Morais e outros, que a partir de entao passaram a frequentar a casa. Há algum tempo eu já sabia do propósito que os movia: a construção de uma usina siderúrgica. Eles, nada diziam. Fiquei sabendo através de um amigo. Finalmente, algum tempo depois, fizeram a proposta pela compra de minhas terras, sempre escondendo o motivo porque a queriam. Recusei. Ameaçaram tomá-la declarando “utilidade pública”. Passei então um telegrama para o Presidente da República Getúlio Vargas. Não obtive resposta. Com receio de perder as terras, resolvi vendê-las. Sob pressão. Preço oferecido: Cr$1.200.00 (hum mil e duzentos contos). Muito tempo mais tarde, chega ao meu conhecimento que o Dr. Alderico estava prepado para pagar três mil contos e que, astutamente, comprara por menos da metade. Fiquei sabendo também, que o prefeito de Antônio Dias havia recebido um longo telegrama do Governador do Estado, que, a pedido de Getúlio Vargas, mandava indagar o que estava acontecendo aqui. O prefeito recebeu a correspondência e “arquivou”.
Christina Tárcia – Em que data o distrito de Timóteo foi incorporada ao Município de Coronel Fabriciano?
Raimundo Alves – A 27 de dezembro de 1948, pela Lei Estadual nº 336. Daí para frente foi o progresso. Em 1953, é construido o primeiro Grupo Escolar, com a denominação de Dona Angelina Alves, em homenagem a minha mãe. O prédio para funcionamento, doado por mim. Foi sua primeira diretora, a professora Eli Moreira Bowen. Dia 24 de dezembro era inaugurado o serviço de iluminação elétrica a domiciliar da cidade. Em 1959 é criada a freguesia de São Sebastião do Timóteo, por provisão de Dom Helvécio Gomes de Oliveira, Arcebispo de Mariana, sendo seu primeiro vigário o Padre Olau Bicalho. Com a implantação da Acesita, o distrito de Timóteo toma grande impulso, vindo a emancipar-se por força da Lei Estadual nº 2.714, de 20 de dezembro de 1963, que cria o município, ocorrendo a sua instalação, dia 29 de abril de 1964, tendo sido nomeado intendente o Sr. Virico da Fonseca, que governou a nova comuna até a posse do seu primeiro prefeito, o Sr. José Antonio de Araújo.
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Christina Tárcia – Corre por aí a estória de que o senhor, além de farmacêutico, era o médico por falta de profissionais na região? É verdade?
Raimundo Alves – É verdade...Eu medicava, operava, fazia partos. Acredito mesmo que tenha sido o primeiro “cirurgião” do mundo a fazer o uso de técnica de enxerto. Um moço chegou a minha farmácia sangrando, com uma das orelhas na palma da mão. Havia sido pisoteado por seu cavalo e estava nervoso. Insistiu para que eu pelo menos tentasse costurar a peça, pois, sem orelha é que não iria ficar. Mãos a obra: limpei o melhor que pude, cortei as rebarbas, coloquei em posição, costurei. E não é que deu certo? A quantidade de gente que me procurava com ferimentos a bala ou facada, era muito grande. Eu fazia as suturas, as operações. Sem vacilar.
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O GRANDÃO
Christina Tárcia – E as festas em Timóteo. Como eram, nos primeiros tempos?
Raimundo Alves – Poucas festas. Festajavamos batizados, dias santos, São João. Havia muita procissão, sempre concorridas com puxador de reza. O mais conhecido era o Antônio Grandão, um homem alto e magro que, acompanhado da sanfona, ia à frente do cortejo. puxando salmos e landainhas, muitas vezes inventados na hora. Um dos cantos mais célebres e mais repetidos começava assim: “Asse na terra, come no céu. “O que queria dizer” Assim na terra, como no céeu”. Bons, muito bons tempos aqueles.
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CRONOLOGIA DE RAIMUNDO ALVES CARVALHO NO VALE DO AÇO
- 1822 - Proclamação da Independência do Brasil.
- 30 de janeiro de 1898 - Nasce em São Pedro dos Ferros (MG), Raimundo Alves de Carvalho.
- 1918 - Jorge Dias Duarte vende parte de suas terras, em Timóteo, ao farmacêutico Raimundo Alves de Carvalho e Matheus de Araújo.
- Novembro de 1920 - Raimundo Alves de Carvalho forma-se em farmácia pela Escola de Farmácia de Ouro Preto (MG).
- 11 de setembro de 1921 - Chega a cidade de Coronel Fabriciano com sua família e numerosos escravos para trabalhar na Estação Nossa Senhora, da Estrada de Ferro Vitória a Minas, Raimundo Alves de Carvalho.
- 1922 - Raimundo Alves de Carvalho assume a gerência da farmácia da Estrada de Ferro Vitória Minas, no Córrego Alto (hoje Parque Industrial da Usiminas).
- 1922 - Criada a Escola Mista Municipal de São Sebastião do Alegre, em Timóteo (incorporada posteriormente pela Escola Municipal Angelina Alves de Carvalho).
- 1925 - Criada a Escola Mista Municipal de Timotinho (incorporada posteriormente pela Escola Municipal Angelina Alves de Carvalho, uma homenagem a mãe de Raimundo Alves Carvalho).
- 1928 - Raimundo Alves de Carvalho instala-se na Estação do Calado e inicia a construção da Fazenda Dona Angelina, na Baixada Beira Rio, próxima ao povoado do Alegre (Timóteo).
- 1929 - Raimundo Alves de Carvalho instala-se em Timóteo.
- 1940 - Elevado a distrito, São Sebastião do Alegre de Timóteo é incorporado ao município de Antonio Dias Abaixo, passando a se denominar apenas Timóteo. Joaquim Ferreira de Souza é empossado juiz de paz do distrito, transmitindo o cargo, no mesmo ano, ao farmacêutico Raimundo Alves de Carvalho. José Moreira de Castro é empossado no cargo de escrivão de Paz e Notas. Instalação da Cia. Siderúrgica Nacional em Volta Redonda. É feito o inventário dos bens materiais da Escola Angelina Alves de Carvalho, assinado pela professora Eli Moreira Drumond.
- 1953 - Construção do prédio do grupo Escolar Angelina Alves e Carvalho. Eli Moreira Bowem é a primeira diretora do grupo escolar Angelina Alves de Carvalho. Criação das Escolas Estaduais Tenente José Luciano e Leôncio de Araújo. Padre Abdala Jorge instala-se em Timóteo.
- 1955 - Primeira formatura de alunos da Escola Estadual Angelina Alves de Carvalho.
- Janeiro de 1979 - Raimundo Alves de Carvalho, já com os seus 81 anos de idade, dedicou-se a edição de seu livro “Enciclopédia do Estado de Minas Gerais”, que conta a história das cidades mineiras, em três volumes.
- 10 de agosto de 1979 - Morre Raimundo Alves de Carvalho, ex-prefeito de Coronel Fabriciano por dois mandatos e pioneiro do Vale do Aço.
VÍDEO: Escola de Farmácia de Ouro Preto. Criada em 1839,a Escola de Farmácia da Universidade Federal de Ouro Preto já formou mais de 5000 alunos.
VÍDEO: Programa Viação Cipó - TIMÓTEO - Bloco 1
VÍDEO: Programa Viação Cipó - TIMÓTEO - Bloco 2
VÍDEO: Programa Viação Cipó - TIMÓTEO - Bloco 3
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