Gente desconhecida, de vida simples, chegou ao Vale do Aço no início do século passado. Morro Escuro, na região do Barra Alegre, em Ipatinga, já era habitado por volta de 1900
IPATINGA - Os registros oficiais pouco conhecem e a imprensa conta a história de Ipatinga, Coronel Fabriciano e Timóteo, a partir da chegada da Cia Acesita, em Timóteo, e da Usiminas, em Ipatinga. Os antigos distritos de Coronel Fabriciano acabaram por se emancipar em 1964, através de decreto assinado pelo ex-governador José de Magalhães Pinto, tornando-se importantes cidades de Minas Gerais. No final dos anos 50 e durante toda a década de 60, muitas pessoas vindas de Belo Horizonte, Juiz de Fora, São Paulo e Rio de Janeiro, além de imigrantes como japoneses, italianos e portugueses vieram para Timóteo e Ipatinga em busca de novas oportunidades. No Vale do Aço, constituíram suas famílias e muitos continuam morando na região.
São muitas as famílias conhecidas que chegaram à Ipatinga, nesta época: Raimundo Anício, Walter Salles, Géber Alvim (o mais antigo comerciante de Ipatinga em atividade), João Valentim, os Tufik, a família Selim de Salles, José Orozimbo, Jair Gonçalves e tantos outros que ajudaram a emancipar e a construir a história oficial da cidade. Mas o que poucos conhecem é a história dos anônimos. Pessoas comuns que vivem longe da mídia e seus antepassados chegaram à cidade há cerca de 100 anos.
A Revista "Vitrine Minas" presta uma homenagem, mostrando uma autêntica família ipatinguense: os Alves da Silva. A história da família começou em 1911, quando dona Júlia ficou viúva na cidade de Ferros. Com os filhos ainda pequenos, veio parar no povoado do Morro Escuro, localizado no distrito de Barra Alegre que, na época, pertencia ao município de Ferros. Com apenas oito anos de idade, um dos filhos, Gabriel Anastácio da Silva decidiu que seria naquele lugar que, mais tarde quando adulto, constituiria sua família. E assim aconteceu. Anos depois, perto dos 20 anos, casou-se com Narcisa Barbosa de Jesus, uma neta de italianos de apenas 14 anos, nascida em Santana do Paraíso, distrito de Mesquita.
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MORRO ESCURO
A primeira moradia do casal foi no Morro Escuro, onde também viviam José de Sales, chamado por populares como “Zé de Sal” e João Lourenço, amigos de infância e irmãos de “criação” do senhor Gabriel Anastácio. Foi na pequena casa do Morro Escuro que nasceram os filhos Zé Luiz, Inhá, Luzia, Maria, Nadir e Helvécio. Por volta de 1937, o casal Gabriel e Narcisa mudou-se para uma nova casa, construída na fazendinha quase na entrada do Barra Alegre. Sobre colunas e piso em madeira, com paredes em barro e a tradicional varanda, com detalhes das portas e janelas nas cores branco e azul, nasceram os outros filhos do casal: Deusdete, Nadir, Nair, Marçal, Taquinho, Zizinha e Zé Miranda.
As irmãs Inhá e Nair, nascidas em Ipatinga, onde vivem até hoje, relembram como era a vida naquela época. “Papai tinha uma lavoura de café e outra de canavial para produzir rapadura”, relembra dona Inhá, que está completando 84 anos. Ao lado da irmã Nair, elas disseram que o café e a rapadura eram as moedas da época. “Quem tinha produção de café e rapadura era considerado rico”, conta a irmã Nair, que completou 68 anos no final de março. O irmão Zé Luiz, falecido no ano passado, foi, segundo relatos da família, o primeiro morador do local onde surgiu o bairro Cariru, ainda nos anos 40. Eles lembram, inclusive, que o nome do bairro surgiu em função de uma hortaliça de nome caruru, muito comum na “baixada” do Rio Piracicaba perto do encontro com o Rio Doce. Décadas depois, já nos anos 70, a fazendinha foi vendida e Gabriel foi viver no bairro Bom Jardim, junto da esposa Narcisa e dos filhos Taquinho e Zé Miranda. Falecido em junho de 1989, Gabriel deixou filhos morando em Ipatinga: Nair, Inhá, Taquinho, Maria, Helvécio e Zizinha. Luzia e Nadir moram desde o início dos anos 70 no Mato Grosso, na região de Cáceres. Zé Luiz, Marçal, Deusdeth e Zé Miranda já faleceram.
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MEDO E DIFICULDADES
Família de João Serrinha chegou em Timóteo em 1947 e morou numa clareira da Mata do Parque Florestal
Quando dona Luzia Natividade de Andrade e o marido João Pereira Chaves, o João Serrinha, chegou ao povoado de Timóteo em 1947, poucas construções existiam onde hoje é o centro Sul. Uma delas ainda está lá, intacta e preservada, como uma testemunha histórica do nascimento e desenvolvimento da cidade: A Igreja de São José, em frente à praça Primeiro de Maio.
A família veio de Ferros, em busca das oportunidades que estavam surgindo com o início da construção da Cia Aços Especiais Itabira – Acesita (atual ArcellorMital). Além do casal João Serrinha e Luzia, vieram os filhos Zezé Deusdedith (o Zé Serrinha), Gininha, Naná, Marieta, Leny, Raimundo Serrinha, Aparecida, Tico e Tazinho. Já em Timóteo, nasceram outros filhos do casal: Geraldo e Lucinha. Em Santana do Paraíso, na antiga fazenda Ipanema, na divisa com Ipatinga, nasceu o filho caçula Vitor.
Dona Gininha contou que quando a família chegou na região, as máquinas estavam iniciando os trabalhos para construção da Cia Acesita. “Era tudo muito difícil”, relembrou. Para ir ao povoado de Ipatinga, era preciso quase um dia, porque não havia sequer uma ponte ligando o distrito de Timóteo ao município de Coronel Fabriciano. A travessia do Rio Piracibaca, conforme dona Gininha, era feita por uma balsa instalada num pequeno porto nas proximidades de onde está a atual estação ferroviária de Timóteo.
Naquela época, a família foi morar no bairro Macuco, em uma área que não tinha uma estrada regular. O caminhão, com a mudança: Arroz, feijão, milho e roupas, não conseguiu chegar até o lugar. Foi preciso o uso de uma carroça para terminar o percurso. Alguns meses depois, o barulho dos tratores anunciava a abertura de uma estrada para que o povoado do Limoeiro pudesse ter uma ligação definitiva com a “Praça”. Até hoje, muitos dos moradores mais antigos referem-se ao Centro Norte como “Praça”, numa referência à Praça Primeiro de Maio, onde a cidade se desenvolveu.
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CERCADO PELA MATA
No Limoeiro, tudo era muito simples, sem comércio e cercado pela mata do Parque Estadual do Rio Doce. Dona Gininha contou que era comum nas madrugadas os moradores ouvirem barulhos de animais, como a onça, à procura de caça. Com a casa cheia de crianças, a mãe, dona Luzia, insistiu com o marido João Serrinha para que fossem morar mais perto da Praça. E assim, em menos de um ano, foram morar numa casa “emprestada” no bairro Bromélias.
No início de 1953, pouco depois de chegar ao povoado de Timóteo, o motorista José Pereira Sobrinho, conhecido como “Zé Caratinga”, nascido em Bom Jesus do Galho em 1928, conheceu dona Gininha, ainda mocinha. E, apenas 11 meses depois, estavam se casando. Os pais e irmãos de dona Gininha seguiram anos depois para Ipatinga. Ela, com o marido Zé Caratinga, fixaram residência em Timóteo, onde ele trabalhava como motorista da Cia Acesita no transporte de carvão vegetal para abastecer a siderúrgica.
O casal viu a Acesita ser inaugurada e, em 1964, o distrito ser emancipado e virar uma cidade. Dona Gininha, que veio a falecer no início de 2014, viveu até seus últimos dias de vida em Timóteo e morou no bairro Alvorada, desde o início dos anos 70. Todos os seus filhos nasceram lá: Waldir, Walter, Vera, Wagner, Penha e Valmir. O marido, também já falecido, deixou para ela uma agradável casa com um bem cuidado jardim numa das esquinas da Rua Rio Santo Antônio, frequentada diariamente por um grande número de pássaros. Atualmente, o filho caçula Valmir, vive em companhia da tia Marieta, de 76 anos, que morou com Dona Gininha há alguns anos, desde o falecimento de Dona Luzia, lá mesmo, na casa do bairro Alvorada.
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HISTÓRIA ABANDONADA
A casa onde nasceu e cresceu a família Alves da Silva está em pé, até hoje. Com o passar do tempo, o casarão está se deteriorando. Hoje, quem passa na estrada entre o bairro Limoeiro e o distrito de Barra Alegre percebe muito rapidamente, a velha casa às margens da estrada, sem, no entanto, saber que ali nasceu e cresceu uma das primeiras famílias de Ipatinga.
Fonte: Revista Minas Vitrine Abril de 2012 (Editor-Ruisley Chaves)
VÍDEO: Audiência Pública em Ipatinga: JOSÉ DEUSDETH CHAVES - "Massacre de Ipatinga"
A Comissão Nacional da Verdade, em parceria com o Fórum Memória e Verdade do Vale do Aço e com a participação da Comissão Estadual da Verdade de Minas Gerais, realizou audiência pública sobre os 50 anos do Massacre de Ipatinga, nela foi ouvido José Deusdeth Chaves, líder sindical nos anos após o massacre, afirma que a origem do evento foi "a repressão da Usiminas em cima de todos os trabalhadore. O corpo de vigilantes, todo paramilitar, que prendia trabalhadores lá dentro, torturava e mandava para a polícia, onde eram torturados outra vez", relatou.
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